quarta-feira, 8 de abril de 2009

Palavras...

Ai Palavras que estranha potência a vossa!

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!


Este é o trecho de um poema de Cecília Meireles, chamado Romance LIII ou Poema das Palavras Aéreas, trata-se de uma obra indescritível, um texto simplesmente fenomenal, fico indignado em saber que só agora aos 21 anos tive acesso a tão preciosa obra.

Como todo bom “teologando” fiz analogia direta deste poema com a Palavra de Deus, que em vários textos nos adverte quanto ao uso da palavra, mas não é meu objetivo falar de textos bíblicos agora, mas sim do conceito teológico que encontrei neste poema.
Faço isso após ter estudado minuciosamente este poema, na aula de língua portuguesa, ministradas por ninguém menos que Adalberto Alves, um dos melhores e mais requisitados revisores do meio evangélico, professor por mais de 30 anos do STBSB.

O que é a palavra? Para Cecília é uma coisa frágil, simples, remota como o vento, leve como a neblina, dissipa-se com a facilidade de uma fumaça, ao mesmo tempo é forte como o ferro, como as algemas, como a corda que enforca.

A palavra pode servir para condenar ou absolver, para matar e para dar vida, é apenas um sopro, vento que ao passar pelas pregas vocais (Prof. Adalberto que me ensinou essa), toma forma, da sentido, tira sentido, faz feliz ou triste, estimula ou detona, sim ou não, parecem palavras simples mas mudariam todo o sentido da sua vida, já pensou se na hora da paquera, conquista seu pai tivesse ouvido um não da sua mãe? Percebeu que você só está aqui por que o SIM foi dito? Percebeu que dependendo da forma com que a palavra se apresenta na legislação de um país pode condenar ou inocentar uma pessoa, pode prendê-la ou libertá-la? Nos tribunais a guerra se da por palavras, vence o melhor discurso.

As palavras dão todo o sentido da vida, nomes de coisas, lugares, pessoas, tratados históricos, descumprimento destes tratados, elas são simples ou complexas, às vezes uma palavra pode ser antagônica a si mesma. Que loucura não é?

O poema citado é um retrato muito interessante deste universo que é composto por palavras.
O que me impressiona nele é seu trecho final, onde diz:
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
- sois um homem que se enforca!
Éreis um sopro de aragem, uma brisa bem leve, que nos remete para a criação do homem, quando Deus soprou em suas narinas dando-lhe a vida, Gn 2:7.

Também diz que a Palavra é um homem que se enforca, lembrando que foi pela palavra que Judas traiu a Cristo, e logo foi enforcar-se, ou seja, perdeu o fôlego de vida, Mt 27:5.
Óbvio que essa analogia que romantizada, é uma leitura teológica de um poema que não se preocupava com isso, mas o que quero é apenas é destacar a sensibilidade da autora, sua capacidade de sintetizar a grandeza da palavra, a importância da palavra, a letalidade da palavra.
A bíblia como já mencionei também da importância à palavra, mostra a sua grandeza e letalidade, seu poder de dar vida e morte.

Quero destacar uma coisa que ouvi do Pr. Irland Pereira de Azevedo quando estive com ele ano passado, “ O Cristianismo é a Religião da Palavra, a Palavra dita por Deus... que haja luz e houve luz... a Palavra Escrita e Pregada... pelos profetas vetero-testamentais... e da Palavra Encarnada... Jesus Cristo o Verbo, a Palavra que se fez Carne e habitou entre nós!”. Isso é no mínimo lindo de se ouvir...

Por isso vale a pena pensar em cada palavra, dita e/ou escrita,ter cuidado com os efeitos dela, cuidado com que está por trás de cada uma delas.A palavra é frágil como vento, pois é vento, ou frágil como um pedaço de papel, porém pode ser fatal em seu significado.

O Senhor Jesus era cuidadoso com suas palavras, tinha responsabilidade ao dizê-las, sabia do poder que elas tinham tanto para destruir quanto para edificar.
Deixou também suas palavras... Por exemplo, no sermão do monte as palavras de Jesus foram pronunciadas com autoridade, ousadia e responsabilidade e no fim Ele disse: “Quem ouve essas palavras e as pratica é semelhante a um homem que edifica a sua casa sobre a rocha”. Mt 7: 24,25.

As perguntas que quero deixar para reflexão são:
Qual valor tenho dado as palavras que tenho dito? ( Poema)
Minhas palavras são como sopro de vida ou como corda que enforca? (Criação e Judas)
Tenho visto a importância da Palavra ao longo da história do Cristianismo, desde o Haja Luz... até o Verbo encarnado?
Tenho ouvido as Palavras de Jesus e as praticado?
Essas perguntas merecem uma reflexão, assim tenho certeza que teremos mais cuidado com o que temos dito.
Que O Senhor nos abençoe e nos ajude a usar as nossas palavras para abençoar os que nos cercam.